Introdução:
Existem vários equívocos na cabeça da maioria dos
cristãos, quando o assunto é Missões (em especial Missões Transculturais).
Um dos quais considero gravíssimo, é a grande preocupação com os campos
missionários, com todos seus dilemas e conflitos (o que considero necessário),
sem uma análise mais acurada da Igreja
como um todo – especificamente o comportamento das igrejas locais modernas.
A Igreja,
enquanto Corpo de Cristo, é formada por
todos os salvos, espalhados por todas as partes do globo nas mais variadas
denominações, nas quais o Evangelho de
Cristo é pregado com fidelidade aos preceitos e princípios Bíblicos. Esta
tem como tarefa suprema, alcançar todas as nações da Terra (cf. Mt 28.19; Mc
16.15; Lc 22.47; Jo 20.21 e At 1.8) e disto ninguém pode discordar. Tentar
tratar do assunto Missões, ou
qualquer tema correlato sem esse enfoque é incorrer numa grande frustração,
pois assim como não há salvação sem Cristo, não haveria Missões sem Igreja e vice-versa, portanto, precisamos lidar com este tema mais
comprometidos com a Igreja Corpo de Cristo, não com a igreja denominação. O
problema não é que a igreja local está falhando, mas sim que a Igreja
não está operando satisfatoriamente para alcançar os perdidos.
No
primeiro tópico trataremos mais sobre isto, ainda que de forma concisa,
abordando os temas da existência,
permanência e prevalência da
Igreja, baseados na sua ação missionária através dos tempos.
No
segundo tópico, veremos como as igrejas locais - de qualquer idade e tamanho;
em qualquer lugar - podem ter seu testemunho potencializado e se tornarem mais
frutíferas realizando missões.
Utilizando
e canalizando melhor seus recursos, cada igreja local pode se tornar num grande
celeiro missionário. Não o fazendo tenderá a se tornar em um grande obstáculo
para o cumprimento desta tarefa – não existe elemento neutro no Reino de Deus
(Mt 12.30)!
Muitas
igrejas até pensam estar fazendo Missões sem nenhuma visão missionária! Parece
uma contradição, mas há um grande número
de denominações “transplantando cultura”
ao invés de contextualizarem-se, quando alcançam povos de costumes e
tradições alheias às suas.
E o que
dizer dos “aventureiros” que põem uma mochila nas costas e saem como um 007 por
aí se auto intitulando missionários?
Por
último, pretendo desmistificar o pensamento de que as agências missionárias são um “corpo estranho” na Igreja. Muito pelo
contrário, poderemos concluir que esta grande e poderosa ferramenta pode,
dentre outras coisas, mobilizar as igrejas; criar e coordenar trabalhos
missionários; organizar secretarias missionárias locais; canalizar recursos
para campos missionários; viabilizar projetos missionários, além de despertar,
treinar e conduzir os vocacionados aos campos, adequadamente.
Sem
desprezar as Juntas e Secretarias missionárias denominacionais, veremos também
que uma Agência Missionária pode,
tranqüilamente, se transformar num departamento da própria igreja local, sem
“atropelar” ou afetar, inclusive, esses órgãos.
MISSÕES: RAZÃO DA EXISTENCIA, PERMANENCIA E PREVALENCIA DA
IGREJA
A. Razão da existência
Todos nós
precisamos ter em mente que Missões
não deve ser tratado como um simples jargão – desses que fazem muita gente
“vibrar” e se emocionar em esporádicos cultos e encontros “missionários”.
Também devemos considerar que este tema não é apenas uma matéria acadêmica
relegada a uma classe de “iluminados” seminaristas.
A razão
de ser e de existir da Igreja de Cristo está intrinsecamente ligada às missões. Vejamos o que diz I Pe 2.9: “Mas
vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para
que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua
maravilhosa luz”.
Quando olhamos para o passado da
Igreja, encontraremos a mesma centralizada numa ação missionária permanente,
principalmente no primeiro século. O livro de Atos, por exemplo, pode muito bem ser chamado de o Manual Bíblico de Missões! Nele estão contidas histórias de pessoas e
igrejas que, até nos dias de hoje, são consideradas paradigmas.
Apesar de não termos muitos dados
que indiquem uma ação missionária efetiva e eficaz, do segundo século até o
início quarto século, aproximadamente, entendemos que neste período a Igreja
estava viva e ativa por causa das Missões.
De
meados do século IV à idade média e podemos perceber o avanço missionário mais
evidente, embora dificultoso e, por fim, do início da Idade Média (1600 d.C.)
até os nossos dias, temos notado um gradual crescimento do interesse por Missões, todavia muito lento. Estes
dados mostram, dentre outras coisas, que a existência da Igreja dá-se pelo fato
de que Missões sempre fizeram parte
de sua dinâmica, ainda que variando para mais ou menos enfática em alguns
períodos.
B. Razão da Permanência
Mesmo
a Igreja existindo e mantendo-se viva através dos séculos pela ação
missionária, a sua permanência tem
sido desafiada, senão de uma forma geral, pelo menos parcialmente. Refiro-me,
por exemplo, ao triste fato citado num artigo por Thomas Reginal Hoover: “Infelizmente, quando analisamos os
trabalhos que estes pioneiros realizaram, notamos que nada ou quase nada ficou.
Sem uma única exceção, todas as terras bíblicas alcançadas até o primeiro
século, são hoje, sem exceção, dominadas pelo Islamismo, onde a pregação do
Evangelho é proibida. Na Turquia (Antiga Ásia Menor), onde Paulo esteve com
Barnabé, o Cristianismo foi reduzido de 50% na Era Cristã, passando a menos de
1% em nossos dias. No Norte da África, houve uma igreja cristã extremamente
forte nos três primeiros séculos. Desta igreja saíram os mais notáveis
apologistas cristãos do Segundo e Terceiro Séculos: Tertuliano, Clemente e
Orígenes, além de Cipriano e Agostinho. Todos os países ao Norte da África têm
hoje entre 99% a 100% de muçulmanos, com exceção do Egito, com 85%”.
Não
podemos de forma alguma, nos conformar com estes dados. Não podemos aceitar o
fato de continuarmos a perder terreno para quaisquer que sejam as religiões,
seitas ou movimentos que desafiam a existência da Igreja. Isto só será possível
se todo o povo de Deus conscientizar-se da urgência missionária, até que todos
os povos sejam definitivamente alcançados.
C. Razão da prevalência
Temos
assistido a comportamentos bastante ambíguos, especialmente na igreja
brasileira. De um lado estatísticas oficiais estimam uma população evangélica
superando a casa dos 26 milhões (com direito a matéria de capa em revista de
circulação nacional) – e crescendo! Todos os dias, milhares de pessoas se
convertem em todo o território nacional e, como resultado, milhares de novas
congregações surgem a cada ano.
Os “megatemplos” e as grandes
catedrais evangélicas desafiam assustadoramente a arquitetura ultrapassada de
templos católicos; grandes concentrações evangélicas reúnem milhões em eventos
do tipo “Marcha para Jesus” e a conquista de espaços cada vez mais relevantes
na política (temos evangélico concorrendo à presidência da república!), nos
meios de comunicação, empresarial, artístico, etc., está fazendo com que o já
assustado e abalado (pelos escândalos) Vaticano, agora fique mais ocupado em
preparar estratégias para tentar deter o avanço dos crentes no Brasil (e em
toda a América Latina).
Olhando somente pelo ângulo que nos
possibilita enxergar tudo o mencionei acima, parece que poderíamos adotar a retórica
triunfalista de que somos realmente imbatíveis! Mas, a estória não é bem
assim... Infelizmente, o povo que detêm uma das maiores promessas do Novo
Testamento – “as portas do inferno não
prevalecerão” (Mateus 16.18 – tem sido minado em sua unidade e perdido sua
força visivelmente. Isto é fato incontestável e facilmente confirmado pelas
seguintes observações):
ü As disparidades
denominacionais, tanto no campo da teologia, quanto os sistemas de governo das
mesmas, causam lentidão e desconfiança nos investimentos para evangelismo e
missões transculturais (visto que este último principalmente, geralmente
necessita de parcerias);
ü Divisões internas têm
enfraquecido o testemunho das igrejas locais, em várias denominações, levando
muitas à falência;
ü Escândalos dos mais
diversos – em todas as áreas – levam ministros e suas respectivas denominações
ao descrédito;
ü Enormes somas em
dinheiro são investidas desordenadamente;
ü Doutrinas estranhas à
Palavra de Deus tomam lugar nos cultos, ensinos e vida da Igreja.
Ainda que
os destaques acima não abracem todos os problemas, penso que são suficientes
para comprovar e justificar o enfraquecimento da Igreja. Mas, o maior e mais
significativo é o descaso por missões!
Este é o motivo principal da não prevalência
da Igreja, pois a promessa de Mateus 16.18 está estritamente relacionada
com o avanço da mesma, conquistando os reinos da Terra através da pregação das
Boas Novas!
continua...
Pr. Aécio Felismino da Silva
Líder da Igreja Cristã Ibero Americana
e Líder de Missões |
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